6 DE JUNHO | “ACIMA DOS AÇORES SÓ DEUS E O DIVINO ESPÍRITO SANTO”

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“Acima dos Açores só Deus e o Divino Espírito Santo” foram estas as minhas palavras finais no Dia dos Açores, a 6 de Junho de 2022. São as mesmas que acredito, e sempre acreditarei até à hora da morte, que peço sempre que seja na minha abençoada pátria açoriana.

Hoje comemoramos a grande revolta da lavoura que se deu a 6 de Junho de 1975. Passado todo este tempo constatamos que os problemas da lavoura permanecem quase iguais, assim como outros, que os Açores nunca conseguiram ultrapassar. A realidade é que permanecemos na cauda de Portugal e da Europa como uma das regiões mais pobres, mais dependente do Estado e do seu financiamento. Nada disto pode fazer sentido quando somos detentores de um mar imenso, abundante em riquezas, tal como uma terra fértil, repleta de lindas paisagens, terra invejável reconhecida nos quatro cantos do mundo.

Continuamente nos interrogamos: O que nos falta afinal?

Talvez nos falte o atrevimento, a determinação, ou quem sabe o desespero, dos bravos açorianos que, naquele dia de 75, arregaçaram as mangas e marcharam, determinados, pelas ruas de Ponta Delgada. Talvez nos falte o soltar das amarras que nos prendem, que nos algemam, a um sistema que faz depender quase todos dele próprio e, aqueles que não dependem, são aliciados ou marginalizados pelo mesmo.

A 6 de Junho de 1975 não foi só a lavoura que saiu à rua para contestar o baixo preço do leite, o alto preço das rações e adubos, e as más condições que este sector sofria, curiosamente algo que continua igual após estes anos todos. Saíram também os cidadãos comuns, pessoas de trabalho, de família, descontentes com o rumo que Portugal levava em direcção ao comunismo, o tal em que o Estado tudo manda, tudo tem e tudo quer. Talvez algo muito semelhante ao estado que temos actualmente. Interrogo-me sempre se não fomos derrotados nesta luta de forma oculta ou paternalista? Deixo-vos esta reflexão.

Em relação à República, temo que tenhamos recuado alguns séculos, relegando os Açores para o patamar de belas, mas esquecidas, ilhas Atlânticas. Com a conquista da Autonomia também veio o contínuo esquecimento e a falta de respeito e de compromisso, por parte dos centralistas de Lisboa para com este Povo Açoriano, quanto às responsabilidades que têm para com este território que também é Portugal.

Da minha parte, um açoriano de nascença e português patriótico, jamais me calarei contra aqueles que atentem contra estas ilhas, contra o meu povo em que me incluo, porque aqui nasci, aqui vivo e aqui pretendo morrer.

Aqui sempre estarei em nome dos nossos filhos e daqueles que estão para vir, mas sempre com a certeza que mais vale continuar a lutar e morrer livres, que calados e em paz sujeitos.

Açores, 6 de Junho de 2023

José Pacheco