“Temos de traçar um plano a 20, 30 ou mais anos que dê esperança aos lagoenses”

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José Pacheco, candidato do Chega à Câmara Municipal da Lagoa pretende ser uma solução de direita com “uma nova visão” para a autarquia lagoense. Considera que governar apenas no horizonte de quatro anos “é um erro tremendo” e diz que as empresas da Lagoa, assim como os agentes sociais e culturais, devem ser os primeiros “a serem chamados”.

 

1 – Porque aceitou ser candidato à presidência da câmara?
Aceitei pelo simples facto de achar, tanto hoje como no passado, que temos um dever de cidadania que não pode ser unicamente de um simples “treinador de bancada”. Temos de ser activos e elementos geradores de mudança. Todos temos visões e experiências que podemos e devemos colocar ao serviço dos outros. Isto é um dever de qualquer cidadão.
Por outro lado, nunca fui de fugir a desafios e cá estou novamente a enfrentar um novo, mesmo que as circunstâncias não tenham sido as melhores, em termos de tempo, mas lá se conseguiu rapidamente criar uma solução de direita que traga uma nova visão à Câmara da Lagoa e aos lagoenses.

2 – Quais os principais desafios e problemas que o município enfrenta atualmente?
O município de Lagoa, há largas dezenas de anos, que enfrenta vários desafios, sendo que alguns deles foram se agudizando com o passar dos tempos.
A Lagoa cada vez mais passou a ser um dormitório, foi perdendo aos poucos as suas características de zona industrial, mas também nunca soube criar alternativas viáveis.
Não há e nunca houve um plano para a Lagoa, algo consistente, algo que pudéssemos acreditar. Um bom exemplo disto é o fracasso do Tecnoparque, que deveria ser um dos maiores pólos tecnológicos dos Açores, mas neste momento é um híbrido entre tecnologia e um sortido de empresas, tendo custado demasiado caro, e que continuamos todos a olhar com grande desconfiança, até diria com 15 milhões de desconfiança.
A Lagoa tem de afirmar a sua identidade, apostar em novas ideias, mas que sejam ponderadas, viáveis e não mais um sem número de experimentalismos ou uma mão-cheia de nada.
Talvez um dos maiores desafios da Lagoa seja ela própria se reinventar com novas soluções, novas pessoas, uma vez que muitas do passado não resultaram.

3 – Quais serão as suas principais prioridades e propostas para responder a estes desafios?
O primeiro desafio é sentar na mesma mesa os principais agentes económicos, culturais e sociais da Lagoa. Ouvir para onde querem ir, que dificuldades possam ter, que visão têm e pretendem ter da e para a Lagoa. Apenas debitar soluções avulsas sem ouvir os protagonistas do progresso é de uma grande ingenuidade e um enorme erro.
Em seguida temos de traçar um plano a 20, 30 ou mais anos que possa dar esperança a todos os lagoenses. Governar para 4 anos é um erro tremendo, é o que tem acontecido e jamais poderá voltar a acontecer.
Parece algo simples, porque na realidade é mesmo com esta simplicidade que deve ser encarada. Toda a complexidade que nos apresentam de soluções não chegam ao fim, não têm cabimento financeiro, jamais serão exequíveis. Agora é a hora de ter as soluções, mas aquelas que os lagoenses querem e não as que alguns pretendem vender.
Acabar com uma série de compadrios tem de ser uma prioridade em nome da transparência, em nome da democracia e seriedade política. Isto de serem sempre os mesmos a venderem ao município, ao preço que lhes apetece, tem de acabar. Há muitas coisas feitas através da adjudicação directa que não fazem qualquer sentido nem mesmo deveriam existir.
Em todas as áreas devem ser as empresas e empresários da Lagoa, assim como os agentes sociais e culturais, os primeiros a serem chamados a intervir na sua terra e jamais deixar que os dinheiros públicos vão parar a mãos de estranhos. A riqueza quando é repartida por todos é mais justa e equilibrada, quando tal não acontece cria-se um clima de suspeição inegável.
Seria muito fácil apresentar uma série de soluções avulsas em várias geografias e áreas, mas este caminho só prova que não somos governantes, mas sim tarefeiros, não é a minha postura. Um governante planeia e manda executar, tal como como um arquitecto que manda um pedreiro erguer uma construção.

4 – Em matéria de política fiscal o tem a propor aos munícipes?
Os lagoenses, e todos neste país, vivem afundados em impostos, taxas e taxinhas. Algo tão ridículo que nos faz lembrar o tempo do Robin dos Bosques, ou seja, oprime-se o povo através de uma carga fiscal excessiva até lhes tirar o ar para gritarem.
O IMI e as muitas taxas municipais devem ser reduzidos ao mínimo possível e, se pudermos, até ao impossível, porque só assim conseguimos atrair mais investimento, melhorar a vida das famílias e criar um contentamento geral. Os impostos sobre as empresas e famílias devem ser tão reduzidos que seja realmente atractivo investir e viver na Lagoa.
Quando as pessoas veem o seu dinheiro esbanjado em festas e festarolas que enchem as algibeiras apenas de alguns e até mesmo dos de fora, há que repensar tudo, colocar um rápido travão neste estado de coisas, que são geridos por pessoas incompetentes, gananciosas e que em nada se preocupam com o seu município, mas sim em agradar quem lhes convém, os seus partidos e meia dúzia de oportunistas que vivem à custa de nós todos. A carapuça há de servir a quem melhor a assentar.

5 – Nas áreas económica e social, que intervenção deve ter a autarquia, na sua opinião?
Na área económica, a começar pelo turismo, há que criar um plano a médio e longo prazo que mostre aos lagoenses o que queremos e podemos aproveitar com esta nova vaga turística. Houve um investimento grande em museus, mas continuamos com falta de clientes, ou seja, turistas.
Em termos sociais há que criar formação e ferramentas necessárias para que as pessoas abandonem a subsidiodependência e vivam dignamente do seu trabalho. A Lagoa tem alimentado a subsidiodependência e esta altura de eleições autárquicas é um grande exemplo deste cancro governativo. Quem analisa orçamentos camarários facilmente percebe que as verbas crescem sempre perto das eleições e isto será sempre difícil de esconder.
Não podemos continuar a ter grupos de pessoas que vivem à sombra do contribuinte, que se agrava quando temos uma câmara municipal vestida de construtor civil que dá portas, janelas, casas de banho, tintas, etc. Afinal é uma Câmara ou uma loja de ferragens?
A política social tem de passar por todos os patamares desta nossa sociedade, quer sejam os mais necessitados quer a classe média que se vê empobrecida e sem apoios. Para a governação socialista que tivemos até agora só existiam dois estratos sociais: os “muito pobres” e os “ricos amigos do sistema”, os restantes que se desembreassem sozinhos. Mas na verdade os ignorados são uma grande maioria que pretendo dar voz diariamente.
A aposta na fixação de jovens tem de ser uma prioridade e isto passa pela urgente articulação entre o município e os Governos Regional dos Açores e da República em termos habitacionais e de oportunidade de emprego nas suas terras, especialmente nas freguesias mais pequenas. Temos de criar incentivos reais à fixação de casais jovens e uma política séria e eficaz de apoio à natalidade.
Ainda em termos de juventude, é urgente que haja um plano para os mais jovens em todas as áreas. Até agora, a CML esqueceu esta faixa etária limitando-se apenas ao OPJ o que é muito redutor e um espelho de uma visão socialista muito limitadora e limitada.
Mas há áreas como a saúde, educação e formação profissional que não devemos nem podemos esquecer, nem descuidar. De igual modo, o combate às toxicodependências, que abrange tanto os mais novos como os mais velhos, continua a ser escasso e quando se ataca apenas pensamos no tratamento esquecendo a prevenção primária.
Consequência disto é a segurança das pessoas e bens cada vez mais ameaçados por este mal social. Na prevenção temos de fazer uma aposta forte na cultura e no desporto, uma vez que quando as pessoas estão ocupadas com algo positivo não precisam de cair no ócio das dependências, sejam elas químicas ou tecnológicas.

6 – Em termos urbanísticos, o que é mais urgente solucionar e como?
A desertificação das zonas rurais é uma problemática e uma urgência a combater. Não podemos saturar com construções as zonas mais urbanas quando temos as freguesias rurais a morrerem por falta de demografia e infraestruturas. Este tem sido um erro do socialismo, a concentração nas freguesias de cidade enquanto as freguesias mais distantes do centro de poder vão morrendo dia após dia.
Por exemplo, a freguesia da Ribeira Chã espera há 50 anos por um loteamento que possa atrair casais jovens, mas com mais-valias para estes jovens e não apenas um conjunto de lotes a preços de mercado como aconteceu recentemente. Este tipo de acção governativa deve vir sempre acompanhada de programas sérios de apoio à habitação e a uma classe média que o único direito que tem actualmente é o de pagar impostos cada vez mais altos.

7 – Como pretende articular a sua relação com o Governo Regional e em que áreas/projectos espera a cooperação do executivo açoriano?
A cooperação com o Governo Regional dos Açores deve ser natural e saudável. E se ela não existiu até agora é porque algo muito errado aconteceu uma vez que até eram da mesma cor partidária.
Há uma série de áreas que dependem do Governo Regional e é obrigação de qualquer presidente de Câmara reivindicá-las para o seu concelho. Uma delas é, sem dúvida, a habitação, especialmente para os jovens, e especialmente nas zonas rurais, como já disse anteriormente. Não vejo, nem ninguém vê isto acontecer.
O turismo como já disse, também é algo que deve ser articulado com o GRA, mas mais uma vez não vejo nem ninguém vê acontecer.
No dia que for Presidente de Câmara e sempre que não me derem ouvidos ou me atenderem, faço como o saudoso Padre Flores, sento-me na porta do Governo até ser atendido, até ver a minha gente com os seus problemas resolvidos. Sei que nem todos têm esta paciência, mas eu garanto que a terei sempre que necessária.

8 – O que é que o distingue dos seus adversários políticos?
Não sei se me distingue, mas se há algo que sei sobre mim é que sempre trabalhei em prol dos outros. Sempre achei que era mais útil ter esta postura, quer fosse nas minhas actividades sociais, culturais, políticas e até profissionais.
A minha determinação, havendo quem a confunda com teimosia, imponho em tudo que faço. Mesmo quando acham impossível, se eu achar que não o é, faço acontecer a possibilidade. Isto só é possível quando não elevamos a fasquia para os níveis da fantasia, mas sabemos planificar as coisas ao nível do alcançável. O Chega tem sido um bom exemplo disto.
O mal de muitos políticos é precisamente terem pouca determinação e simplesmente atirarem uma série de promessas que nem eles próprios acreditam que são possíveis de concretizar.
Tenho o bom hábito de nunca fazer promessas e quando me ponho num caminho é para ir até ao fim, custe o que custar, doa a quem doer. A vida é preciosa demais para andarmos a brincar com ela e com a dos outros.

 

Fonte: Açoriano Oriental