Muitos são aqueles que não gostam da minha postura, da forma directa como digo as coisas, mas a verdade é que fui educado a não mentir e a olhar ao meu redor para compreender a realidade, para melhorar e combater o que estiver mal. Fui educado a ser frontal, sem rodeios ou medos de dizer a verdade. Esta é uma educação que vem dos nossos pais, avós, antepassados, aqueles que podiam contar com apenas eles próprios e com uma comunidade unida para combater as adversidades. Hoje, obrigam-nos a ajoelhar perante o poder e a ser obedientes, silenciosos, isto para quem aceitar, o que nunca será o meu caso.
Estas ilhas são nossas, lutamos por elas diariamente, com trabalho e honestidade. Lutamos há séculos contra o abandono de quem manda nisto tudo e dos seus obedientes serviçais locais.
Temos a certeza de que somos governados (se é que assim podemos dizer) pela cegueira partidária ou ideológica por mais que os erros persistam. Certo é que dos gabinetes pouco ou nada se consegue ver da realidade e mais grave é que esta visão é deturpada por estudos, estatísticas e outras demandas tais que apenas servem para justificar o ordenado e de alguns e agendas de outros, por piores que sejam. O que por cá mais abunda são os oportunistas e parasitas do sistema. A isto junte-se uma comunicação social manipulada, parcial e condicionadora da informação (entenda-se fabricadora de notícias e títulos falsos), sempre de mão estendida à espera do próximo subsídio.
Após observar 50 anos de uma suposta democracia, chegámos todos à conclusão que não resulta a receita que nos venderam. Percebi, tal como milhares de outras pessoas, que o caminho trilhado nos levava a mais pobreza, dependência económica e social, um afundanço geracional da nossa terra e das nossas gentes.
No entanto, somos sempre tratados como uns coitadinhos em que se atiram umas “saquinhas de dinheiro”, regado com muitas festas e festarolas, para ir calando a boca do povo. A dependência de terceiros vai aumentando e a capacidade de produzir riqueza vai diminuindo. Se alguns se amanham, outros não são amanhados e gritam bem alto contra esta podridão instituída.
O que nos fizeram durante décadas foi dizer que estávamos “doentes” e que só eles tinham a cura. Permitiram a Autonomia, mas condicionando a ação e as decisões fundamentais. No fundo, tratam-nos como uma colónia, um país de terceiro mundo e o mais triste é que acabamos por o ser tanto a nível económico como social, isto para não falar na falta de capacidade de reivindicação que perdemos dia após dia.
São inúmeros os exemplos de como condicionam a nossa ação e até mesmo a nossa soberania. Então vejamos:
Numa terra com falta a mão-de-obra gritante, persistem no erro de continuar a sustentar a preguiça e a clandestinidade laboral. Continuam a pagar para não se trabalhar, para terem prioridade em tudo, mas que todos os que saem de casa diariamente para trabalhar e pagar impostos têm cada vez menos acesso.
Uns têm de trabalhar para comprar comida, pagar a prestação da casa, os estudos dos filhos, as despesas de uma família. Outros têm rendas baixas, mesmo não as pagando, banco alimentar, escalão nas escolas, prioridade nos serviços do estado, etc., etc. É caso para dizer que uns são filhos e outros enteados.
A lógica deles, aqueles que acham que nos governam, é de que se trabalhas és rico se não trabalhares o estado toma conta de ti. Isto tem resultado num forte desequilíbrio e descontentamento social que um dia vai estourar.
Outro exemplo, aos locais a construção está cada vez mais vedada, condicionada, proibida com PDMs, proteção da orla costeira, reservas, etc. No entanto, se for um grande grupo, uma empresa estrangeira em que nome sai nos jornais, aí sim, tudo é permitido, leva todos os subsídios, tem taxas zero. Fazemos caridade com os de fora e deixamos morrer os de casa.
Aos nossos pescadores tudo é condicionado, fecham-se os Açores em reservas e mais reservas, mas para cá virem os estrangeiros apanhar o que nos é proibido e que nos possa pôr o pão na mesa. A fiscalização é uma anedota, como vimos recentemente com os barcos chineses, que não dá para rir, mas para chorar abundantemente. Pior que não ter fiscalização é ter mentiras e ilusões para encobrir o desprezo de uns e a incompetência de outros.
A lista de exemplos seria interminável como devem calcular.
Com a minha forma de ser, por mais exuberante que alguns a considerem, vou continuar a lutar para não sermos tratados como “Terra dos Coitadinhos”, custe o que custar, doa a quem doer. Não estou sozinho e cada vez há mais gente a nosso lado, por mais que isto incomode alguns.
Se nos derem uma oportunidade mudaremos tudo isto mesmo sabendo que vai doer a muitos que se acostumaram a viver à custa do contribuinte. É caso para dizer: a mama vai acabar!
É tudo uma questão de tempo, trabalho e muita paciência, mas havemos de lá chegar porque já CHEGA desta bandalheira. Já CHEGA de ser a terra dos coitadinhos
José Pacheco
Presidente e Deputado do CHEGA Açores