ENTREVISTA DE OLIVÉRIA SANTOS AO JORNAL DIÁRIO DA LAGOA
Olivéria Santos tem 48 anos. Nasceu a 7 de maio de 1976 e é natural da Vila de Água de Pau. Em 1996 foi para Portalegre estudar Jornalismo e Comunicação, mas diz que o seu objetivo era voltar. A paixão pelo jornalismo levou-a a passar pelas rádios Atlântida e TSF Açores, por revistas como a Rotações e a Factos, jornais como Açoriano Oriental, Correio dos Açores, Diário dos Açores e Açores 9.
Em relação ao jornalismo, está certa de que “infelizmente ainda é uma profissão que não é devidamente reconhecida”, pois é “mal paga e falta muito ao jornalismo cá na região”, por isso ficou “muito desiludida”.
DL: Agora que é deputada, como olha para o jornalismo que se faz na região?
Noto que realmente eu tinha razão, porque quando venho para o CHEGA venho para fazer assessoria, na altura ao grupo parlamentar, começo a ver que se não faço uma nota de imprensa não sai nada sobre o CHEGA na imprensa. E não se trata de má vontade, são as redações que não têm hipótese de sair, de ir a conferências de imprensa ou fazer entrevistas. Felizmente na altura houve este convite para vir para a assessoria de imprensa do CHEGA mas eu já estava seriamente a pensar em mudar e sair do jornalismo.
DL: Como recebeu o convite para assessorar o CHEGA/Açores?
Fiquei muito contente. Senti um misto de desafio e alegria. Mas sempre pensei que ia correr bem. Na altura já conhecia o CHEGA, não tão profundamente, porque foi um processo de aprendizagem mas conhecia o José Pacheco, pela proximidade de terras e porque já tínhamos convivido em termos sociais. Havia coisas que concordava plenamente, outras que ficava na dúvida porque só sabia o que a comunicação social dizia. E muitas coisas eram retiradas do contexto e ainda assim acontece porque passam uma mensagem errada da verdadeira mensagem que o Chega quer passar. E estou a cada dia mais convencida que estou onde eu queria estar.
DL: Há medo por parte da comunicação social em relação ao CHEGA?
Eu acho que sim. Ainda recentemente comemorou-se os 50 anos do 25 de abril e fiz uma declaração política na Assembleia em que falava de democracia. A democracia é isto, é eu poder ser livre ao ponto de poder ingressar num partido como o CHEGA. Um partido que veio mostrar que pode ser diferente. O 25 de abril deu-nos essa liberdade de podermos escolher. Há discriminação, claramente, devido a uma tolice que foi inventada a nível nacional por comentadores de que é um partido racista, xenófobo, homofóbico. Racista nunca fui, xenófoba também não, homofóbica muito menos, e nem sequer tenho que andar a dar explicações porque é que não sou racista, pois eu sou um ser humano, não aceito que me obriguem a provar que não seja. Não tenho de provar nada a ninguém, simplesmente não sou e o partido também não é. Se há pessoas no partido que são racistas, xenófobas ou homofóbicas isso existe em todos os partidos e em toda a sociedade.
DL: De que forma, enquanto deputada e lagoense, pode contribuir para a Lagoa?
Eu acho que já estou a contribuir. O facto de ser natural e viver em Água de Pau, ser do concelho da Lagoa, e de ter sido eleita, só isso já contribuiu para ajudar o concelho. E não porque eu vá fazer medidas concretas para a Lagoa. Falo-ei se efetivamente houver alguma situação. Ao ser deputada já estou a beneficiar a Lagoa, porque tudo o que fizer terá como objetivo ajudar os açorianos e aos ajudar os açorianos estou a ajudar os lagoenses e pauenses. Por exemplo, uma das nossas bandeiras: prioridade nas creches para as famílias que trabalham. Se essa medida for aprovada vai beneficiar também os lagoenses. Os idosos, o aumento do cheque pequenino. Os da Lagoa e de Água de Pau também vão beneficiar. As nossas medidas acabam por beneficiar todos os açorianos, inclusive os residentes no concelho da Lagoa. Por exemplo, uma situação que me lembro foi a da ajuda aos pescadores da Caloura. Havia ali um problema e ainda há, não está resolvido, com a zona protegida da Caloura e nós colocamos um projeto de resolução na Assembleia a pedir que fosse criado um regime de exceção para os pescadores da Caloura para poderem ir ao mar a partir daquele porto. Os pescadores conhecem-me, vieram falar comigo, eu sou filha de pescador, é um setor de atividade que me é muito próximo e isso permite-me conhecer alguma da realidade. Vivi com o meu pai e tios a falar da pesca e fui aprendendo com eles. E essa foi uma situação que me chamou a atenção e trabalhamos nisso. Este é um caso concreto relativo a Água de Pau. Mas se fosse a mesma situação no Porto Formoso, em São Mateus ou no Corvo teríamos feito o mesmo. Eu por ser de Água de Pau não vou fazer medidas só para Água de Pau. Sou uma deputada eleita pela ilha de São Miguel, natural de Água de Pau, mas todo o meu trabalho será em benefício dos Açores, sendo certo que qualquer uma dessas matérias irá ajudar também os habitantes da Lagoa e, claro, os de Água de Pau.
DL: O que é que falta à Lagoa?
A Lagoa está abandonada, precisava de ser mais potenciada. Há aqui um trabalho muito grande que cabe à Câmara Municipal, não ao Governo. No que diz respeito a Água de Pau sinto que o poder local afastou-se. Parece que é aquela freguesia que não faz parte do concelho da Lagoa. Qualquer pessoa que vá ao concelho da Lagoa e fala, por exemplo, com uma pessoa do Rosário, de Santa Cruz, e pergunta de onde é, ela responde que é da Lagoa. Se perguntarmos a um pauense ele vai responder que é de Água de Pau.
A Lagoa está no meio da ilha de São Miguel, está próxima de todos os concelhos, temos uma beleza lindíssima. Podíamos ser mais usados e apostar mais nos jovens e nas jovens empresas, motivá-los, não ser só um dormitório. É isso que falta, motivar e chamar as pessoas para investirem no concelho.
DL: Quanto ao futuro. Os resultados nas legislativas surpreenderam ou motivaram-vos mais ainda?
Surpreendidos não fomos. Quando entrei no CHEGA e vim para assessora de imprensa, não me passava pela cabeça que a seguir iria ingressar numa lista em segundo lugar. Foi um trabalho que fomos trilhando. Fui acompanhando o José Pacheco e passei a chefe de gabinete porque o jornalismo deu-me uma bagagem grande. Claro que estamos sempre a aprender mas isso ajudou bastante. Os cinco deputados eram a nossa meta. E esse crescimento acarreta uma grande responsabilidade e não podemos defraudar as expetativas de quem votou em nós. Acreditamos que esse crescimento vai continuar aqui nos Açores. O CHEGA veio para ficar, a nível nacional vai chegar ao segundo lugar e quem sabe daqui a uns anos formar governo e ter um Primeiro ministro, porque o paradigma está a mudar, o contexto social e a vida económica mudaram e os partidos também têm que acompanhar essa mudança. O CHEGA é um partido que acompanha essa mudança, o PS e o PSD não acompanharam, nem estão a seguir o rumo que a sociedade precisa. São partidos que estão ultrapassados e que deviam, para o seu próprio bem e sobrevivência, acompanhar os novos tempos. E, depois, temos um país tão pequeno mas com tantos casos de corrupção. E quem é que se lixa? Somos nós que pagamos impostos. Eles ficam com o nosso dinheiro e não são culpabilizados por isso e a justiça é lenta, os processos acabam por prescrever. É preciso inverter esse estado de coisas, pois o sistema está podre. As pessoas entram na política não a pensar no que podem fazer para melhorar a vida do vizinho, mas sim em que é que podem beneficiar com isso. Não é correto. Eu entrei na política com uma missão, pois quero estar aqui para defender aquilo em que acredito, segundo a minha ética. Não vim para ter benefícios pessoais, embora tenha obviamente o meu ordenado. Eu vim a pensar em que posso melhorar a vida das pessoas, nem que seja uma coisa mínima.
DL: Falta empatia na política?
Falta imensa empatia e compaixão. Às vezes entra-se na estratégia política, chega-se ao ponto de ferir e de ir para a esfera pessoal, ultrapassa-se certos limites. Falta empatia, compaixão e solidariedade. Não faças aos outros o que não queres que te façam a ti. Mas estou muito otimista, pois esta legislatura começou muito bem e houve uma mudança de entendimento, uma aproximação do presidente do Governo regional ao CHEGA. Acredito que se as coisas continuarem assim, podemos todos trabalhar juntos e levar a legislatura a um bom rumo.