A GRANDE CONQUISTA DO POVO AÇORIANO

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Nunca poderíamos, nem devemos, ignorar o que existia antes de 25 de Novembro 1974. O passado não se apaga, o que que de mal fizemos deve servir-nos de lição para não voltar a repetir. O que de bom aconteceu deve ser enaltecido e repensado sempre que novas receitas teimem em querer ser cartilha, mas mais não são que frustrações minoritárias que em nada nos fazem progredir. A Autonomia foi, sem dúvida, uma grande conquista democrática do Povo Açoriano dos tempos modernos.
A nossa autonomia não nasceu apenas em 1976. Este anseio nasceu há mais de um século. Muitos foram aqueles que lutaram constantemente para chegarmos onde chegamos. E onde chegamos é sempre o mais importante que devemos discutir ou reflectir.

Devemos olhar para a Autonomia como uma conquista da Democracia, mas também um acto de Liberdade. Democracia porque nos permite ter uma voz própria enquanto arquipélago, enquanto Povo diferente dos restantes portugueses. Esta diferença deve também ser entendida como uma Liberdade responsável que não oprime os outros, não diminui o vizinho, mas sim defende o nosso bem-estar e apenas isto.

Esta não é uma autonomia perfeita e jamais devemos aceitar que seja. Todos nós temos o dever de a aperfeiçoar todos os dias. Deve ser um caminho a ser percorrido de forma conjunta, com todos os parceiros, nunca um acto solitário que tenta impor uma ideologia ou uma forma de estar, mesmo que não seja o desejo da maioria dos açorianos.

Também da Autonomia devemos todos ter consciência que não nasceu para privilegiar alguns políticos, os amigos deles ou os interesses ocultos que possam esconder. A Autonomia é dos Açorianos e para todos os Açorianos, não pode ser mais um encargo dos contribuintes quando é mal usada em proveito próprio ou dos interesses cooperativos.

Para melhorarmos o processo autonómico temos de compreender que necessitamos de a ter de forma plena. Neste sentido, continuo sem compreender que papel tem o Representante da República num contexto Autonómico. Já somos adultos, não necessitamos de vigilância da República. Somos orgulhosamente parte de Portugal, mas não podemos continuar a ser tratados como filhos menores ou até mesmo enteados. Somos filhos desta Nação, mas com a vontade e liberdade plena de gerir a nossa terra e os nossos recursos. Somos orgulhosamente nacionalistas, mas de uma Nação com diferenças e igualdades, com pontos que convergem, mas também divergem pela suas diferenças geográficas, culturais, demográficas ou até políticas.

Também é certo que não podemos cantar vitórias autonómicas quando vivemos numa das Regiões mais pobres de Portugal, quando se alimenta a pobreza com mais pobreza, de programa em programa, de medida em medida, enquanto o dinheiro houver, até que todos nos cansemos de os pagar.

Contudo, Viva os Açores e ao seu Bom Povo, Viva o nosso Divino Espírito Santo e todas as nossas boas tradições!

José Pacheco

In Açoriano Oriental de 6 de Junho de 2022