Frida Kahlo? O mundo precisa é de Marias Augustas

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Por Rita Matias
Deputada eleita pelo CHEGA

Frida Kahlo foi uma pintora que ficou célebre pelas suas obras, nomeadamente pelos diversos autorretratos. É reconhecida a dureza da sua vida marcada pelas debilitações de saúde, por sucessivas perdas gestacionais e pelo casamento abalado por diversas traições. Militante ativa do Partido Comunista Mexicano, viveu um envolvimento com Leon Trotsky – tendo-o auxiliado no processo de asilo, após ter sido afastado por Estaline.

Se através da arte pintava os seus estados de alma e experiências, usou também este meio para enaltecer figuras como Karl Marx, Estaline ou Trotsky.

Contemporaneamente, viveu também Maria Augusta. A simples forneira de Castelo, em Moimenta da Beira. Foi mãe de três filhos e cedo teve que complementar o trabalho no forno da aldeia com a exploração do campo. Foi deixada pelo marido que emigrou para o Brasil. Do companheiro pouca coisa soube depois, tendo como única certeza que poderia contar apenas consigo própria para criar a sua descendência. Assim o fez e foi matriarca de uma grande família que ainda hoje recorda a determinação da D. Maria.

Duas mulheres que viveram a dureza do seu tempo. A primeira, tornou-se um ícone de movimentos que colectivizam as dores e dificuldades da vida, exteriorizando-as e imputando responsabilidades a todos, menos aos próprios. A segunda, foi uma mulher comum que, como as pessoas comuns, não pôde perder tempo em teorias de vitimização porque ser forte era a sua única opção.

A primeira, serve os propósitos da revolução cultural em marcha e torna-se vítima dos próprios movimentos. Hoje, é um produto do capitalismo e a sua memória deturpada vive apenas nas camisolas, pins e bens em que o seu rosto aparece estampado. A segunda, vive no coração dos seus.

A primeira, mostra que estes movimentos não são inocentes nem órfãos de matriz ideológica. Idolatram uma “filha” de Marx, que no México não se insurgiu contra a opressão e extermínio de cristãos no processo forçado de laicização. Veneram quem acolheu e protegeu o comandante do Exército Vermelho, Trotsky. Por conivência ou inacção, é um ídolo com as mãos manchadas de sangue, mas esta é a versão que nunca ouvimos.

A segunda, é esquecida por esses movimentos, porque o propósito nunca foi solucionar os problemas das “Marias Augustas”. Condenadas ao esquecimento estão também as mulheres do Oriente e todas as práticas abusivas que vivem. São também esquecidas as vítimas de casamentos forçados, mutilações genitais ou o abandono escolar forçado, mediante a minoria étnica a que pertencem.

E esquecido será tudo o que, do alto da hipocrisia destes movimentos, for incómodo falar.

Esta é, por isso, uma homenagem à Mulher comum. A que não é celebrada. A que é objectificada por movimentos que não a defendem, não a protegem e não compreendem que é possível ser mulher e olhar a mulher para além da baliza social e ideológica que estes constituem.