Começo por esclarecer que a política actual é muito mais do que a comum dicotomia direita-esquerda, ou socialismo-capitalismo, não apenas pela semântica mas porque progressismo-conservadorismo, embora mais actual, é, ainda assim, limitativa do universo político moderno.
Assim, utilizo a forma apenas para manter o tema simples. São inúmeras as diferenças entre direita e esquerda, mas o que se passa em Portugal neste momento é uma disputa em todas as frentes com larga diferença entre ambas.
A luta na esquerda tem o seu início em 2015, com o surgimento da geringonça. Quando se faz um acordo a três mas se discute os termos do acordo com os dois “camaradas” em separado, isso inquina o processo, revela uma enorme desconfiança e, sobretudo, a chico-espertice de António Costa, que tanto lhe deu jeito para chutar para canto António José Seguro.
Em 2019, quando já não precisa dos “camaradas”, Costa não tem pejo em dizer “quem quer ficar, fica, quem não quer, vá andando” – mais uma provocação e desrespeito que não caiu bem nos parceiros. Em 2021, por terem sido bengalas de um péssimo Governo, BE e PCP vêem-se a descer nas sondagens, têm maus resultados autárquicos e percebem que, se assim se mantiverem, serão engolidos pelo PS. Honestamente, eles vão perder de qualquer forma: na esquerda haverá uma concentração de voto útil, pela estratégia do PS de investir tudo para uma (pouco provável) maioria, mas também porque o PAN está a desaparecer e PCP e BE vão pagar pela inércia e subserviência dos últimos seis anos.
No PS a luta está ao rubro. O ministro Pedro Nuno, do alto da sua arrogância e superioridade moral tipicamente bloquista, defende a geringonça que nos conduziu a esta crise económica e social, acredita que um partido que alberga terroristas e outro que defende uma ideologia sanguinária (resolução do Parlamento Europeu de 19 de Setembro de 2019) serão os melhores parceiros para o Partido Socialista português. Costa parece não concordar e a guerra no PS vai ser esta: continuar um partido de centro-esquerda ou virar à extrema com os seus jovens turcos.
Mas enquanto no PS se digladiam por questões ideológicas, na direita discutem-se egos e personalidades. Num conselho nacional, Rio percebeu que já não tinha o partido na mão e tremeu. Fora do PSD, acredito que escolheriam Rio para primeiro-ministro à frente de Rangel, mas quem vota quer mudanças não de política, apenas de cara, e é provável que a tenham.
No CDS, o dono da bola viu que corria o risco de perder, enfiou a bola no saco e acabou o jogo. Vai ele jogar sozinho e decidir sozinho, de forma totalitarista. Em PyongCaldas, quem manda é ele, por agora. Indo a eleições e mesmo perdendo, de forma digna e com maturidade, salvaria a sua carreira política; com estes tiques ditatoriais de menino mimado, perdeu a já pouca credibilidade que tinha. Perde o partido que, sem o abraço aconchegante do padrinho Rio, deixa o táxi e passa a andar de bicicleta.
A esquerda de Pedro Nuno ou de Galamba já deu provas de não serem mais do que cópias distorcidas de Sócrates. O negócio do lítio de Galamba, que entrega 380 milhões a uma empresa constituída três dias antes da assinatura do contrato, ou os contratos feitos no dia imediatamente a seguir ao chumbo do OE2022 fariam o próprio Sócrates corar. A esquerda mata, seja na Venezuela, na China ou em Cuba, a direita vai-se matando, com guerras de egos e acusações de extremismo ou falta de moderação, com cada um a defender a sua quintinha, fechando os olhos a um bem maior, o nosso país.
Nuno Afonso
Dirigente do Chega
In Novo Semanário