Candidata pelo Chega à Câmara da Lagoa não poupa críticas ao que considera o “abandono” do concelho. Em entrevista ao Diário da Lagoa assegura querer devolver o orgulho aos lagoenses
AUTORIA DA FOTOGRAFIA: © CLIFE BOTELHO
LEGENDA: Olivéria Santos nasceu a 7 de maio de 1976 e é natural da Vila de Água
Por Clife Botelho | Diário da Lagoa
DL: Na entrevista que nos deu em 2024 referiu que “a Lagoa está abandonada”. Continua a pensar da mesma forma?
Sim, continuo. Eu acho que a Lagoa foi esquecida pelo Poder Local. Um concelho tão grande, no meio da ilha e com tanto potencial, poderia ser mais projetado, mais dinâmico, apoiar mais o tecido empresarial local, revitalizar-se, criar eventos-chamariz, eventos-âncora que atraiam as pessoas à Lagoa. Onde está o investimento na Lagoa nos últimos anos? Não vejo nada feito, apenas pequenas intervenções. Falta aquela obra grande que mostre que o investimento foi feito. Há pequenas iniciativas, outras que são promessas antigas, agora, com a proximidade das eleições, começam a tapar buracos e a promover inaugurações só para ficar bonito. Lembro-me, por exemplo, do Auditório Ferreira da Silva, que fazia parte de inúmeros programas eleitorais e só há dois anos foi inaugurado, e com tantas falhas. Estão a realizar eventos, mas onde está o essencial? É preciso incluir os lagoenses no seu concelho, torná-los participativos e colaborativos. Os lagoenses são muito vaidosos do que lhes pertence e, quando é bem feito, apreciam. Falta que os lagoenses voltem a ter orgulho naquilo que é seu.
DL: Então o que é que falta efetivamente nas cinco freguesias da Lagoa?
Por exemplo, falta um Mercado Agrícola. Temos imensos agricultores e muitos empresários que poderiam participar nesse mercado, e há essa vontade. Há anos que se fala nisso.
É preciso dinamizar os jovens, as nossas filarmónicas locais, criar escolas de música e apoiar os ranchos folclóricos, pois a cultura é muito importante. A cultura é sempre tratada como um parente pobre e as verbas acabam por ser apenas migalhas. Esquecem-se que, ao incentivar a cultura, estamos, se calhar, resolvendo e prevenindo muitos outros problemas no futuro, como o da droga.
Se investirmos na cultura e atrairmos esses jovens, isso vai gerar envolvimento, porque envolve também as famílias e as coletividades — como as filarmónicas, os ranchos folclóricos e os grupos de jovens.
Precisamos que haja investimento nas coletividades, nas escolas e nos ATL’s. Seria muito mais eficaz, por exemplo, investir em programas como a “Escola Segura” e em ações de formação do que, por exemplo, investir na criação de uma cooperação de bombeiros. A Lagoa está adormecida.
DL: Não concorda com a opção de um posto avançado de Bombeiros na Lagoa ou com a criação de um quartel?
A Lagoa está, no máximo, a 10 minutos de Ponta Delgada e com boa acessibilidade. Talvez o que se justifique seja um reforço já que atendem tanto Ponta Delgada quanto a Lagoa. Seria mais eficaz reforçar o quartel de Ponta Delgada com mais meios, tanto humanos quanto de equipamentos. A Lagoa já tem um compromisso e atualmente já lhes presta apoio. Creio que deveríamos partir daí e não criar algo do zero. Um quartel de bombeiros na Lagoa é uma ideia megalómana e completamente sem sentido. Temos um quartel de bombeiros em Ponta Delgada, então deveríamos focar em apoiá-lo de forma mais robusta e melhorá-lo, em vez de ter dois que, no final, podem não funcionar bem.
DL: Foram anunciadas novas habitações para a Lagoa.
Eu já não acredito nessas promessas feitas em período pré-eleitoral. A questão das casas é um caso gritante, pois o concelho tem um problema de falta de habitação, mas isso é transversal a outros concelhos.
Foram anunciados 25 milhões de euros para a Lagoa. Onde está esse dinheiro? Estava orçamentado e foi anunciado pela então presidente. Falta muita transparência, não basta apenas anunciar, pois são fundos do PRR. Temos de perceber realmente se vão ficar prontas no próximo ano. E para quem são essas casas? São para a classe média, que é quem efetivamente precisa? É irónico que o discurso do atual presidente tenha sido de que as casas são para os jovens da classe média. Ora, isso é o discurso do Chega. Só acordaram agora? O Chega já defende isso há muito tempo, pois quem essencialmente precisa de casas é a classe média. Esta nunca pediu casas de graça, mas sim, casas que pudessem pagar, com opção de compra.
O Estado não pode continuar a sustentar as pessoas, as pessoas têm de dar o seu contributo. Se querem uma casa, têm de trabalhar por ela.
DL: O Tecnoparque e a Fábrica do Álcool são temas de debate, agora também a Frente Marítima. É sinal de que o concelho está a crescer?
São investimentos que poderiam fazer a diferença na Lagoa, mas falta o grande investimento, o tal verdadeiro chamariz. Há quantos anos se fala nessa bendita fábrica? E continua lá. Quando a campanha começar, vamos voltar a falar na Fábrica e no Tecnoparque? Ações concretas, colocar as mãos à obra, é o que precisamos.
Acabam as eleições, ganha-se o poder e tudo fica arrumado na gaveta até que, quatro anos depois, volta-se a falar do mesmo. Não pode ser, não se pode desistir dos projetos. Temos que insistir e trabalhar para o bem da população, senão não faz sentido.
DL: Quer deixar uma mensagem aos lagoenses?
Peço que confiem em mim. Estou aqui, não para fazer promessas, mas porque abracei este projeto e vesti a camisola. Sou da Lagoa, fui a vida toda e adoro a Lagoa. Estou aqui para trabalhar com todos e para todos, sem excluir ninguém, e peço a vossa ajuda.
Salvar a Lagoa, limpá-la, transformá-la, colocá-la no mapa e revitalizá-la. Quero que as pessoas falem da Lagoa que a visitem para conhecer as suas belezas naturais, os restaurantes, as pessoas e as tradições. Mas para isso é preciso um trabalho que não foi feito.
Portanto, espero que as pessoas me deem essa oportunidade. Se, daqui a quatro anos, não gostarem, haverá novas eleições e poderão escolher outra opção. Mas estou aqui e assumo este compromisso com os lagoenses, e é para isso que vou trabalhar, desde que confiem em mim. Estou preparadíssima.