OS COMENTADORES DO SISTEMA E A POLÍTICA PIMBA!

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Portugal vive entre a euforia do futebol e a depressão pelos maus resultados da governação. É frequente o país entrar em depressão coletiva, devido às sucessivas bancarrotas, ou após derrotas da seleção nacional (como no Euro 2004), ou porque continuamos a assistir a José Sócrates a passear na Ericeira ou Ricardo Salgado com lapsos de memória, mas nenhum dos dois julgados ao fim de décadas.

Os casos e casinhos que abundam sobre a classe política, do mais leve ao mais grave deixaram os tribunais judiciais e passaram para os tribunais populares, ou melhor para as redes sociais e para a comunicação social. Se antes tínhamos música pimba a abrir os noticiários, agora temos a “política pimba”, com painéis de comentadores “isentos” que fazem o julgamento da coisa pública e dos partidos políticos (apenas de alguns) tal como a inquisição fazia dos hereges na idade média.

Uma vez que o segredo de justiça é a maior anedota nacional e a presunção de inocência deu lugar à certeza da culpa, a classe política está, mais do que nunca, sujeita a ataque – neste momento à falta de futebol ou de uma bancarrota é o passatempo preferido dos media: queimar políticos na fogueira, sejam eles suspeitos, acusados ou condenados, tenham roubado uma galinha, um milhão de euros ou milhares de milhões de euros, o que interessa é a “censura popular”, a devassa da vida pessoal, o “Big Brother Mediático” – interessa é “vender notícias” a qualquer custo. Só olhando para os comentadores, para o seu registo de interesses ou para a sua genealogia, já sabemos o que vão dizer e atacar antes de abrirem a boca.

A profissão de comentador passou a ser altamente bem paga e bastante procurada e acarinhada pelos media. Muitos desses comentadores são ex-políticos fracassados e ressabiados que nunca tiveram sucesso no jogo democrático e no debate de ideias. Agora sentam-se na “cadeira do poder dos media” e fazem o papel de acusador público e de juiz – o sonho de qualquer ressabiado é queimar os adversários (e inimigos) na fogueira, fazendo de conta que nunca lá esteve, nem que para lá quer ir.

Muitos destes comentadores vieram da política e outros anseiam ir, ao ponto de atualmente para ser Presidente da República é quase obrigatório ser comentador. Sem contraditório vão emitindo as suas opiniões e até doseando “o veneno” contra os seus adversários e inimigos. E quando os comentadores não são suficientes para queimar os indesejáveis, temos o “polígrafo”, uma espécie de ministério da verdade ou, melhor, o “Ministério do Santo Ofício” dos tempos modernos, onde a verdade “pura” é encontrada.

Estes “comentadores” e ilustres “opinantes” fazem todos os dias política nos cafés, na televisão, nas redes sociais e em editoriais nos jornais, embora alguns destes quando passaram pelas bancadas parlamentares só foram notícia por terem sido filmados a dormir no Parlamento. Mas agora são uns “gurus” da política e da opinião sobre a coisa pública.

Todos estes comentadores e “opinadores” têm soluções milagrosas para os problemas, mas a maioria deles quando questionados se querem dar a cara por algum partido político não o fazem; é mais cómodo criticar do que fazer e convém manter-se alinhado com o “sistema” – não vá o “diabo tecê-las”. Muitos destes comentadores estão cheios de boas ideias, mas esperam que sejam os tais políticos sem qualidade a concretizá-las, algo que alguns, enquanto políticos, não o conseguiram fazer.

Ainda há as “personalidades independentes” que opinam de forma aparentemente livre, alegadamente sem nada a perder ou a ganhar, mas coincidentemente as suas críticas vão sempre para os mesmos quadrantes políticos e os elogios para onde o “vento mediático” sopra; fazem sempre as críticas de forma indireta, sempre com pezinhos de lã, não vá desagradar a alguém e daí resulte o atraso nalgum subsídio ou a perda de algum emprego público para um familiar.

Temos em Portugal fantásticos ex-ministros; temos empresários que têm ideias fantásticas para o país, mas que preferem o anonimato e manterem-se na “sombra”; temos gente altamente competente e qualificada, mas uns por cobardia e outros por tacticismo, ficam sempre à espera de ver para onde cai o poder – sabem que o polvo é grande e os tentáculos do poder picam como alforrecas e convém manter posições ambíguas que permitam facilmente mudar para a equipa vencedora, entenda-se, os partidos do poder.

A opinião em Portugal está a ser forjada nas redes sociais, através de comentadores, ex-políticos – muitos ressabiados -, personalidades pseudoindependentes e jornalistas alinhados com o “status quo”; uma vez que temos uma sociedade civil capturada e maioritariamente acorrentada e subserviente ao poder desmesurado do Estado, resta a uma crescente parte da população portuguesa a satisfação de criticar e falar mal dos políticos e das políticas e manter a esperança num Dom Sebastião que os irá salvar a todos, pois ninguém quer vir para a política com o atual clima de suspeição e de circo mediático, para não falar na judicialização da política, onde se corre o risco de acordar de manhã e ter as televisões em direto antes da chegada das “autoridades judiciais”, como aconteceu com Rui Rio.

Por este andar, qualquer dia teremos uma profecia autorrealizável e só teremos na política maus políticos e os resultados serão exatamente o que todos criticavam, porque ninguém teve coragem para dar a cara e fazer melhor. Preferiram esconder-se por detrás da crítica gratuita, dos perfis falsos no Facebook e da partilha de falsidades.
A política do debate das ideias deu lugar ao circo mediático e à política pimba!

Francisco Lima
Deputado e Vice-Presidente do CHEGA Açores