1 – O plano e orçamento da Região para 2024 é discutido em breve no parlamento. Que expetativas tem para esse documento?
Não tenho grandes expectativas, uma vez que pouco ou nada se diferencia do anterior, que teve uma taxa de execução baixa. Podemos dizer que o papel aceita tudo, basta lá colocar. Executar é algo mais complexo.
Este Orçamento acaba por demonstrar falta de criatividade e de auscultação do mundo real. É mais um orçamento da bolha governativa, das vaidades e dos compadrios partidários. Mais um orçamento para comprar votos, e não para resolver os reais problemas das pessoas, das famílias e das empresas e que muito têm dificultado a vida a todos os açorianos.
A tal promessa de fazer diferente, afinal era mesmo só aos “boys” dos partidos desta agora governação. Quem tiver dúvidas, que veja as inúmeras nomeações dos “meninos” dos partidos da coligação.
2 – O endividamento zero é a opção assumida na narrativa do Governo Regional. É realidade ou ficção? Quais as consequências do discurso e da prática?
É ficção porque acabam por ser os fornecedores os maiores financiadores do Governo Regional. Ou seja, quando não se paga ou se paga tarde, como é caso da saúde, quem está a assumir juros e moras são os empresários.
Temos dito também que endividamento zero, é sempre sinónimo de investimento zero. É o que vemos.
3 – Do que conhece do documento, que outros caminhos trilharia na construção tanto do plano como do orçamento?
Começaríamos pela grande urgência que é a habitação. Tem sido um drama para as famílias açorianas, que não conseguem aceder a uma habitação que possam pagar. Claro que para outros, os mesmos de sempre, a habitação vem quase de graça com rendas sociais. Neste momento, há apenas habitação para ricos e muito pobres (os tais), enquanto isto a classe média desespera.
Neste Orçamento, falta pensar a cultura como um todo, como dinamizador do turismo e consequentemente da economia. Continuamos a tratar a cultura como o filho menor desta Região.
Apesar de muito já se ter feito, a realidade é que necessitamos de um verdadeiro apoio à fixação de médicos, enfermeiros, professores e todas as reais necessidades profissionais dos Açores.
Os nossos bombeiros continuam a ser o parente pobre da governação. Muito se promete, mas nada se cumpre. Um bom exemplo são os camiões que negociamos com o GRA, mas que até à data não vieram.
Entre muitas outras coisas, gostaríamos muito de ver um aumento do Complemento de Pensão para idosos em valores como conseguimos no primeiro orçamento. Mas, ao contrário, o que se assiste, e o que vemos, são idosos que continuam a ter pensões miseráveis.
As tais creches gratuitas, que muito gostam de apregoar, continuam a ser uma falácia enquanto houver prioridade para quem não trabalha, recebe apoios sociais, e, mesmo assim, ocupam os lugares que deveriam ser para os pais que trabalham.
4 – Nos próximos tempos teremos muito dinheiro europeu para executar. Estamos preparados, por um lado, para executar e por outro, para realizar apostas para um desenvolvimento sustentado e com visão de futuro?
Tanto preparados que a execução do PRR tem sido uma vergonha. Alguém acredita que, em dois anos, é que vão conseguir executar o que falta? Eu não.
Acredito que vamos perder uma grande oportunidade de alavancar a economia e a sociedade açorianas, por inércia do Governo.
Curiosamente, o Governo Regional e os partidos da Coligação andam muito mais preocupados em mentir aos açorianos quanto à execução do PRR, caso o orçamento chumbe, do que propriamente acelerar o ritmo executório.
O Governo Regional e os partidos da Coligação estão mais preocupados em falar mal do CHEGA e apontar baterias ao deputado José Pacheco, ao invés de olharem para dentro de casa e, principalmente, olharem para os açorianos. Porque são os açorianos que importam e que necessitam, com urgência, de um governo responsável que sinalize os problemas, aponte soluções e execute, parta para a acção. Acção é o que precisamos de qualquer governo e não o que temos visto.