Entrevista de José Pacheco ao Diário Insular
1 – As medidas aprovadas por Lisboa para enfrentar a inflação não são consensuais. Qual a sua opinião sobre o “pacote”? Irá resolver o problema?
O chamado “pacote” não passa de uma mera ilusão. Vejamos, dar uma “esmola” de 125 euros num único mês é apenas criar a ideia de um governo benevolente, eleitoralista. Na verdade, os efeitos da inflação vão se sentir daqui para a frente e, dizem os economistas, com um efeito devastador. Vamos dar abonos todos os meses ou vamos começar a virar a página na política fiscal e contributiva?
Continuamos a dar tudo a todos, sobrecarregando a classe média com impostos, atirando-os para o limiar da pobreza.
A questão que devemos todos colocar é: Que fez Portugal para se defender ou combater as crises internacionais? Talvez pouco, para não ter de dizer nada. Continuamos a viver como ricos com o dinheiro dos outros.
2 – Seria preferível agir ao nível dos salários? Porquê?
Penso que temos de agir a nível da dinamização da economia. Por exemplo, o famoso PRR será absorvido pelo estado quando deveria ir para as empresas e famílias. O estado não gera riqueza, mas sim absorve a riqueza de um país.
Por outro lado, continuamos a ter uma carga excessiva de impostos, um sistema fiscal repleto de taxas e taxinhas, para tudo e para nada. Continuamos a taxar de tal forma os rendimentos das famílias e empresas, especialmente as mais pequenas, que ganhar mais pode representar levar menos para casa em cada mês.
O aumentar salários é um populismo facil, uma forma simpática de agradar o povo, mas na realidade quando aumentamos os salários também aumentamos o preço dos produtos, ou seja, dispara a inflação.
Baixar impostos é a solução, não haja a menor duvida. Ter uma taxa única que não roube quem trabalha mais, é o caminho a seguir. Temos de acabar com este estado que persegue quem mais quer trabalhar, mas beneficia quem nada quer fazer.
3 – Na sua opinião, o que deveria ser feito em relação aos chamados lucros excessivos das empresas que parecem, derivar da crise em curso?
Ao falarmos em “lucros excessivos das empresas” damos ideia de que todas as empresas estão com lucros acima do normal. Isto não é verdade e talvez se possa apenas aplicar a alguns sectores ou a grandes empresas. A maioria das empresas andam com a “corda ao pescoço” há muito tempo.
Temos sim de travar a especulação e monopólio de certas e determinadas empresas “amigas do sistema”. O compadrio económico é uma realidade até pelos nossos lados, só não vê quem não quer.
4 – Estará a inflação que sentimos ligada a fenómenos incontroláveis ou sobretudo a especulação?
Temos de começar a travar a especulação económica, a cartelização de certos sectores, ou o inflacionar artificialmente os preços. Temos bons (ou maus) exemplos no sector energético, na grande distribuição, etc., sempre com alguma desculpa fácil de dizer como foi o COVID19 e agora a guerra na Ucrânia. Talvez fosse bom explicarem às pessoas como subiu 100% uma garrafa de óleo dois dias depois de começar a guerra, não estava este produto em armazém?
Há muito a fazer neste aspecto e se começarmos a ter percentagens máximas nas margens de lucro dos bens essenciais, vamos começar a a trilhar o caminho certo.