O que mais ouvimos, ou lemos, é esta “pescadinha de rabo na boca” em que uns dizem haver falta de mão-de-obra, outros que os patrões pagam mal. Curiosamente, dependendo da perspectiva, tudo isto pode ser verdade ou até mentira. Certo é que temos um grande número de trabalhadores sem qualificação, mas que se acham no direito de receber como se a tivessem. Também é questionável o facto de tantos anos de formação profissional para chegarmos a este ponto de quase zero. O que andaram a fazer este tempo todo?
Ora vejamos, há falta de mão-de-obra porque para alguns é mais comodo, e até mais vantajoso viver dos subsídios, como todos sabemos. Mesmo com ofertas de salários acima da média, fingem-se distraídos e apenas reclamam muito mais. Obviamente que com todas a manobras e burlas para usufruir do máximo dos apoios sociais nenhum patrão consegue oferecer tais valores. Quem desejar ser pago como engenheiro ou medico sem o ser, o melhor é ir a correr para a universidade e tentar a sua sorte, se conseguir. Quem não quer ver isto não é sério.
Por outro lado, também é verdade que alguns “empresários”, os tais que apenas pensam em subsídios do estado para manter a porta aberta, recusam-se a pagar dignamente quem trabalha. Todos conhecemos estes casos e os sinais exteriores de riqueza que ostentam. Quem paga mal há de ser sempre mal servido, é uma regra incontornável.
Felizmente que o nosso tecido empresarial, composto por pequenos negócios, não tem esta perspectiva, caso contrário isto estava apenas entregue aos tais “grandes” que tudo espremem, enquanto os mais pequenos nem aos subsídios sabem recorrer ou tanto lhes dificultam a vida com burocracia, que não o fazem.
Actualmente ouvimos falar na “importação” de mão-de-obra estrangeira, especialmente para a construção civil. Até parece ser uma grande solução, mas quando vem dos mesmos que levaram a vida pendurados no sistema, ficamos todos desconfiados. Isto porque mais parece que querem contratar trabalhadores mais baratos usando a desculpa da escassez local, mas não necessariamente o propósito final, pelo que podemos calcular.
Quando se fala em mão-de-obra qualificada tenho grandes dúvidas em acreditar que esta que vamos trazer de fora seja mais habilitada que a local. Suponho que a única mais valia é ser mesmo mais barata. Podemos estar aqui perante uma exploração de seres humanos como vamos vendo em todo o lado em que tal acontece.
Soluções? Há que esgotar o mercado interno de mão-de-obra retirando os apoios a quem se recusa trabalhar. Até porque muitos deles trabalham, mas clandestinamente. Todos sabem do que falo, menos quem devia fiscalizar. O Estado continua a ser o maior “cancro” em todo este processo, como é óbvio.
Por outro lado, quando uns começaram a pagar com justiça e equilíbrio, os restantes terão de fazer o mesmo ou perdem a capacidade de terem trabalhadores. É o mercado a funcionar como devia sem a interferência dos políticos. Não esquecendo que a pesada carga de impostos é um grande obstáculo tanto para quem emprega como para quem trabalha.
Finalmente, o recurso a mão-de-obra estrangeira deve ser feito com regras muito apertadas. Desde salários justos, condições de trabalho, alojamento e alimentação que defendem a dignidade humana, caso contrário estaremos perante uma verdadeira escravatura em tempos modernos. E, para se evitar maior sobrecarga sobre o nosso sistema de solidariedade social, deve haver contratos rigorosos, com período de tempo estipulado, caso contrário teremos novos pobres sempre que o trabalho findar os escassear.
Acredito que o mercado vai se regular normalmente desde que não venham os governantes sedentes de votos meterem-se pelo meio atirando novamente dinheiro para cima de problemas que nunca se resolvem, apenas sobrecarregando quem trabalha e paga impostos.
José Pacheco
Presidente e Deputado Regional do CHEGA Açores