MAS QUEM SERÁ O PAI DA CRIANÇA?

46

MAS QUEM SERÁ O PAI DA CRIANÇA?
Crónica de José Pacheco

Há já muito tempo que a Democracia nos Açores não se manifestava de forma tão saudável. Isto porque o processo democrático valoriza-se quando temos uma pluralidade de forças políticas nele a participar.

Os Açorianos foram a votos e expressaram as suas muitas vontades. Por um lado, mantiveram o PS como partido mais votado, por outro, elegeram novas forças políticas que poderão ser o equilíbrio da democracia.

Todo este processo criou um novo desafio aos agentes políticos. Uns acham que o eleitorado quer o PS a governar, mas fortemente fiscalizado pela oposição, outros acham que o somatório da oposição é a vontade popular de formar um governo à direita. Podem as duas visões serem corretas? Obviamente que sim, é tudo uma questão de perspetiva. Já tínhamos visto isto acontecer a nível nacional e conhecemos as inúmeras opiniões na altura geradas e as consequências que daí vieram. Não esquecer também que se o eleitorado queria um governo de direita ou de esquerda podia ter votado num dos maiores partidos, mas não o fez e, assim sendo, obriga-nos a que façamos uma reflexão justa para nunca contrariar as expectativas do eleitorado.

Tudo isto é apenas a nata dos factos, mas o nosso mundo não se move infelizmente apenas por ideais, mas sim, na maior parte das vezes, por interesses obscuros e agendas muito próprias, quase indecifráveis, que dificilmente vão ao encontro dos reais interesses das populações. Caminhos apenas trilhados no confinamento dos bolarentos e sombrios gabinetes políticos.

Sejam soluções de esquerda ou de direita todas elas poderão trazer estabilidade ou não, tudo depende dos protagonistas a que nos sujeitamos no panorama político. Isto porque quando os interesses pessoais ou partidários estiverem acima dos interesses dos açorianos, seja qual for o caminho, será sempre o errado e vestido da maior fragilidade política e democrática.

Os tempos que se avizinham prometem ser duros para todos os açorianos, desafios que teremos de vencer a todo o custo, fruto de uma forte crise econômica que poucos tendem a falar, mas que será inevitável.

Há quem acene com milhões e outros que cobiçam os mesmos. Há quem tenha usado a crise pandêmica como propaganda eleitoral, outros que a desvalorizaram ou a ignoraram, mas certo é que ela terá consequências que poucos saberão dizer qual será a sua real dimensão. Tudo parece uma encenação de quem esconde o que vai mal prometendo uma virtualidade de mais valias para coisas que todos ignoram, atirando de novo para cima dos problemas mais uma “saca de dinheiro”, que todos sabemos ser engolida, na sua maioria, pela pesada máquina do estado.

Os maiores partidos do sistema não apresentaram soluções para o futuro, mais não fossem preventivas, e muito menos para os malefícios que sofrem os açorianos há longos anos. Acompanhando a nova moda da reciclagem, o sistema apenas reciclou o discurso apresentando as mesmas soluções para os velhos problemas que nunca soube resolver ou que outros supostamente nunca terão a capacidade de solucionar. As prioridades serão sempre partidárias ou eleitorais. Entre o ir e vir do pau sempre descansam as costas, por mais quatro anos.

As famílias açorianas têm sido esquecidas ou então iludidas com pequenos benefícios, aqui e acolá, que sempre vão empurrando os problemas para um dia mais distante, mas acumulando cada vez mais pobreza, desigualdades sociais, compadrios e corrupção. É um percurso de várias dezenas de anos que nos tentam convencer ter sido positivo, mas pelos vistos, não convenceu a maioria dos açorianos.

Diz-nos a história que quando fazemos uma mudança temos de ter a certeza de não estamos apenas alterando actores de uma triste tragedia que parece repetir-se constantemente. Há que mexer nos cenários, nas estratégias e ter a coragem de dar um passo em frente para que tudo mude efetivamente.

A firmeza das convicções e os pilares inabaláveis das nossas certezas hão de ser sempre o garante da verdade e da justiça, tudo o resto são acidentes ou oportunidades que podem ser bem ou mal aproveitadas, tendo ou não em conta quem os elegeu. Muito triste ficarei eu, e muito mal servidos os açorianos, quando as agendas pessoais estiverem acima do bem muito maior que são os Açores.

Haja saúde e aguardemos serenamente por dias melhores que os Açores bem merecem.

Ribeira Chã, 29 de outubro de 2020

José Pacheco