A HIPOCRISIA DE UM SISTEMA QUE SE DIZ DEMOCRÁTICO

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Vivemos num país que, com orgulho, celebra 50 anos de democracia.

Exalta-se a liberdade conquistada, as eleições livres, a pluralidade política e a liberdade de expressão como conquistas de Abril. Mas, quando observamos a realidade, percebemos que esses valores nem sempre são verdadeiramente respeitados — especialmente quando a escolha foge ao politicamente correto ou desafia o sistema instalado.

Vivemos tempos em que assumir a militância num partido, ou simplesmente dizer que se é candidato por esse partido, é motivo suficiente para ser alvo de insultos, exclusão social e até tentativas de silenciamento. Pessoas são marginalizadas não pelas ideias que defendem, mas simplesmente por ousarem pensar diferente. Por exercerem o mais básico dos direitos numa democracia: o direito à liberdade de escolha política.

Aqueles que há décadas dizem defender a democracia mostram agora que só a aceitam quando ela serve os seus próprios interesses. Mas, quando o povo começa a abrir os olhos, a contestar, a votar em partidos fora do “sistema”, o jogo muda. Os que gritam “liberdade” são os primeiros a calar vozes dissonantes. Os que dizem combater o ódio são, muitas vezes, os que semeiam a intolerância. Os que se dizem democratas revelam-se os verdadeiros inimigos da diversidade de pensamento.

Oprimir candidatos de listas adversárias, tentar desacreditá-los ou impedi-los de participar livremente na vida política é um sinal claro de desespero. Um desespero que nasce do medo — medo de perder o controlo, medo de um povo que acorda, medo de uma força política que cresce não porque manipula, mas porque representa o que muitos sentem e durante anos não puderam dizer.

A liberdade de expressão não pode ser seletiva. Ou existe para todos, ou não existe para ninguém.

Por isso, é preciso dizê-lo sem medo: ser do CHEGA não é crime. Ter uma opinião diferente não é crime.
O verdadeiro crime é fingir que se vive em democracia quando, na prática, se tenta calar quem representa uma alternativa.

Mais do que nunca, é tempo de ter coragem. De lutar pela liberdade — por todas as liberdades — inclusive a de dizer aquilo que muitos não querem ouvir ou têm medo de dizer para não perder votos.

Porque se há quem precise silenciar para vencer, então não merece governar.

Paula Valadão
Candidata à Assembleia Municipal de Ponta Delgada