A Base das Lajes, nos Açores, é um dos maiores trunfos geoestratégicos de Portugal. Uma infraestrutura militar de primeira linha, no coração do Atlântico, com acesso privilegiado aos corredores aéreos e marítimos que ligam os continentes. Um ponto-chave para operações militares, vigilância, reabastecimento, transporte de tropas e controlo de cabos submarinos. Um ativo que qualquer país gostaria de ter, e de cobrar bem por ele.
Mas em Portugal, dá-se. Dá-se porque somos “bons aliados”. Dá-se porque achamos que a amizade transatlântica vale mais do que contratos claros e interesses nacionais bem defendidos. Dá-se porque há décadas que confundimos diplomacia com submissão.
Os Estados Unidos continuam a usar a Base das Lajes quando precisam. Fazem-no sem pagar o que seria justo por uma infraestrutura desta dimensão e importância. E Portugal continua a assistir, mudo e agradecido, a uma utilização que serve interesses norte-americanos muito mais do que os nossos.
Pior: as contrapartidas que nos prometem, sempre anunciadas com pompa em conferências de imprensa, raramente se concretizam. Os milhões de dólares em investimento direto nunca chegam. Os empregos que se perderam na ilha Terceira com a redução da presença militar norte-americana continuam por substituir. A economia local continua a pagar o preço de uma base que funciona… mas não para os açorianos.
É difícil entender como um país europeu, democrático e soberano aceita este tipo de relação desequilibrada. As Lajes valem muito, e não só no mapa. Valem dinheiro. Valem segurança. Valem influência internacional. E Portugal abdica desse valor, de mão estendida, à espera de promessas que nunca se cumprem.
Não se trata de pôr em causa a relação com os EUA. Trata-se de respeitar Portugal. Trate-se de negociar com firmeza. Como fazem outros aliados. Como fazem países que sabem que uma base militar estrangeira no seu território é sempre uma moeda de troca, e não um favor.
Portugal deve exigir:
Pagamentos diretos e transparentes pela utilização da Base das Lajes;
Compensações económicas reais para os Açores, não relatórios nem intenções;
Um papel ativo na definição dos usos e limites da base.
É hora de deixar o discurso vago da diplomacia para os comunicados do costume. O que está em causa é soberania, justiça e respeito por uma região ultraperiférica que tem dado mais do que tem recebido. A Terceira merece mais. Os Açores merecem mais. Portugal merece mais.
Se os EUA querem continuar a usar a Base das Lajes, está na altura de pagarem por isso. E se Portugal quer continuar a ser respeitado, está na hora de exigir. Sem meias-palavras.
José Pacheco
Presidente e Deputado do CHEGA Açores




