DIA DOS AÇORES: AUTONOMIA SIM, CONFORMISMO NÃO

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Celebrar o Dia dos Açores e, ao mesmo tempo, o Espírito Santo, que se assinalou no passado dia 9 de Junho, é uma afirmação viva da Autonomia, da cultura e da resiliência do povo açoriano. Esta comemoração, profundamente enraizada nas tradições populares e religiosas, representa também uma conquista histórica: o direito de autogoverno consagrado no Estatuto Político-Administrativo da Região Autónoma dos Açores.

No entanto, celebrar o Dia dos Açores não deve ser apenas um acto de memória ou de exaltação. É também um momento de reflexão sobre os desafios contemporâneos que a Região enfrenta. A desertificação de algumas ilhas, a dependência económica do exterior, a necessidade de qualificação dos jovens e a preservação ambiental são questões urgentes que exigem políticas corajosas e eficazes, ancoradas no espírito autónomo que este dia representa.

Mais do que uma celebração institucional ou um desfile de discursos formais, o Dia dos Açores deve, e tem de ser, um momento de balanço crítico e de apelo à responsabilidade política, porque a Autonomia, se não for exercida com coragem, visão estratégica e proximidade às pessoas, corre o risco de se transformar num ritual vazio e, pior ainda, num álibi para a inacção.
Passadas quase cinco décadas, há sinais preocupantes de desgaste e de conformismo no exercício do poder autonómico.

Neste Dia dos Açores, é urgente questionar que modelo de desenvolvimento está realmente ao serviço das ilhas. Continuamos a assistir à fuga dos jovens qualificados, à estagnação de sectores estratégicos, à degradação ambiental encoberta por discursos de sustentabilidade. A descentralização interna entre ilhas continua por cumprir, com ilhas periféricas votadas ao abandono em nome de uma lógica centralista disfarçada de eficiência.

Mais do que nunca, é necessário que os açorianos, onde quer que estejam, nas ilhas ou na diáspora, se sintam parte activa na construção do futuro da Região. A Autonomia, conquistada após o 25 de Abril, é uma ferramenta poderosa, mas só será plenamente eficaz se for acompanhada de uma cidadania participativa e de lideranças responsáveis.

Aproveitemos sempre o Dia dos Açores, para celebrar, com orgulho, a nossa história, as nossas tradições e a nossa Autonomia. Mas que este orgulho se traduza também em acção, em pensamento crítico e em união, porque os Açores não são apenas um lugar, são um povo com voz, com alma e com futuro.
Mais do que discursos, os Açores e os Açorianos merecem futuro!

Olivéria Santos
Deputada do CHEGA na ALRAA