OS AÇORES NÃO SÃO PARA JOVENS EMPRESÁRIOS!

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O que não faltam por aí são anúncios a promover a criação de “startups”, fóruns sobre “empreendedorismo” – fazem de tudo para cativar os jovens. Mas é importante que os jovens saibam o que é ser empresário em Portugal e quais os desafios que irão enfrentar.

Será exigido um longo e penoso “caminho das pedras” até ao sucesso. Pelo caminho, vão encontrar obstáculos inimagináveis. Se pensam que vão trabalhar 35 horas por semana, ou que a sua semana de trabalho vai ser de 4 dias, como defende a esquerda e a extrema-esquerda, então esqueça já essa ideia de ser empresário, pois só a burocracia do Estado vai ocupar-lhe, nos primeiros meses, mais do que essas horas por semana.

Vai ouvir falar do Fisco, ou melhor, da “Autoridade Tributária e Aduaneira” (AT). Lembre-se desse nome, pois, ao longo da sua vida de empresário, sempre que receber notícias por e-mail ou carta registada desta entidade, será para lhe retirarem dinheiro ou dificultarem-lhe a vida. A esta junta-se a Segurança Social e a Autoridade para as Condições do Trabalho para o “assarem em lume brando”. Neste país, ser empresário é passar à categoria de “bandido”. Vai ter um exército de burocratas a persegui-lo com a “tábua da lei” , mas com muita mesquinhez e inveja à mistura, qualidades portuguesas tão bem relatadas por Luís de Camões.

Mas, quando pensava que tudo estava ultrapassado, quando pensava que aquela candidatura, aprovada por um destes programas do Governo Regional dos Açores, estava a “correr sobre rodas”, eis que o projetista lhe telefona a informar que, para receber o que supostamente lhe é devido, é necessário enviar umas quantas resmas de papéis e vários formulários online.

Finalmente, os “pedidos de pagamento” foram submetidos ao fim de alguns meses, mas o Governo Regional leva outros tantos meses, ou até anos, para pagar, ao ponto de até se esquecer do assunto. Mas, entretanto, recebe uma carta do Fisco, da Segurança Social, do banco ou dos fornecedores a refrescar-lhe a memória e a exigir pagamentos. Aí começa a ter dúvidas se os políticos são mentirosos ou se o dinheiro que deveria receber está a ser usado para pagar os milhões de prejuízos da SATA, das empresas públicas e cooperativas falidas.

Quando pensava que iria abrir o negócio naquele terreno herdado da família, eis que o engenheiro civil lhe liga a dizer que o seu projeto de construção está com problemas. Há vários pareceres negativos de tantas entidades que já perdeu a conta, porque, entretanto, naquele local onde os seus avós podiam construir casas e arranha-céus, agora tudo é proibido. O PDM, o POOC, a Reserva Ecológica, a Reserva Agrícola, o Domínio Público Marítimo, ou uma linha de água que por ali passava há 500 anos impedem esse investimento. Vai ter de mudar de sítio, ou esperar mais 50 anos até que estes planos sejam alterados.

Entretanto, quando conseguiu ultrapassar todos estes obstáculos, após recorrer a “alguns amigos” ou “influencers”, passando a fazer parte dos 10% que sobrevivem a este pesadelo, eis que vários clientes a quem vendeu a crédito (fiado) não lhe pagaram, e tem de ir para tribunal. É então que descobre que o seu processo vai levar anos, por vezes décadas, e que será necessário pedir mais dinheiro emprestado ao banco ou à família para cumprir com as suas obrigações.

Agora que se conformou que este país não é para jovens empresários, tenta desesperadamente vender o negócio, mas dá conta de que, ao fim de vários anos a “remar contra a maré”, os capitais próprios da sua empresa são negativos, ou seja, o seu negócio não vale um cêntimo, como aliás acontece a mais de 25% das empresas em Portugal e que por isso ninguém comprar.

Resta-lhe apanhar o primeiro avião comprando um bilhete só de ida, emigrar e recomeçar num destes países a sério, onde ser empresário não é ser bandido, onde o Estado é um parceiro e não um inimigo, onde trabalhadores, sindicatos e empresários remam para o mesmo lado, onde não há mais fiscais do que empresários, onde a justiça funciona e há elevadas probabilidades de sucesso caso se empenhe.

Qualquer semelhança com esta realidade só peca por defeito.

Francisco Lima
Deputado e Vice-Presidente do CHEGA Açores