E O PROBLEMA É O TERMO “FUZILAMENTO”

0

Há dias, um deputado do Chega, mais precisamente o seu presidente e líder parlamentar nos Açores, afirmou, numa das suas intervenções, que “os traficantes de droga deveriam ser fuzilados”. As palavras podem não ter sido exatamente estas, mas o termo “fuzilados” foi, de facto, utilizado.

Este episódio tem feito correr muita tinta, porque a palavra escolhida é excessiva, ofensiva aos direitos humanos e contrária à própria Constituição Portuguesa. Todos sabemos que, nesses debates, especialmente quando enfrentamos um problema tão grave como o da droga, cujo impacto é visível a olho nu, há quem diga o que muitos pensam, mas não têm coragem de expressar. E então, cai “o Carmo e a Trindade”.

Mais ainda, muitos ficaram escandalizados quando a maioria dos deputados do Parlamento Açoriano permaneceu em silêncio. Claro que sim, a maioria são pais, avós, tios ou irmãos.

A sorte é daqueles que nunca passaram pela dor de ter um filho, irmão ou neto toxicodependente. Imaginem um pai que vê o seu filho afundar-se no mundo da droga, degradar-se dia após dia, com um traficante a rondar-lhe a casa constantemente, tentando vender-lhe mais uma dose. Quantos pais e mães conhecem esses traficantes que, aos poucos, lhes roubaram a vida dos filhos? Sim, roubam vidas humanas, sejam filhos, irmãos, netos ou até mesmo pais e mães de alguém.

Condena-se quem verbaliza aquilo que muitos pensam. Mas o que sente um pai ao cruzar-se na rua com quem considera responsável pela morte do seu filho? Porque, quando alguém entra nesse mundo, “morre”. Mesmo que não morra fisicamente, morre para a família, para a vida profissional e, acima de tudo, para a sociedade.

O que faria esse pai, se pudesse, ao ver o seu filho ou filha escravizado pela droga, a prostituir-se nas ruas, a engravidar, a contrair doenças… e ao lado, ver o traficante limpo, de carro descapotável?

Deixemo-nos de hipocrisias. Esse é o problema de há cinquenta anos. Ver miúdos a mendigar pelas ruas de Ponta Delgada para conseguir umas gramas de heroína ou drogas sintéticas. Ver adolescentes sujos, perdidos, a prostituir-se para sustentar um vício que começou com uma “oferta”, mas que rapidamente se tornou demasiado caro.

Agora, façamos um exercício mental: fechemos os olhos e imaginemo-nos num fim de tarde, a passear com o cônjuge pelo Campo de São Francisco, e, de repente, olhar debaixo de um banco de jardim e ver um corpo inanimado, sujo, violado, abandonado… e ser o nosso filho ou filha.

Nesse momento, o que o deputado José Pacheco afirmou é o que qualquer pai, no fundo do seu coração, desejaria fazer.

Disse.

João Luís Rodrigues da Câmara
Pico da Pedra, 12 de junho de 2025