Poderia iniciar este artigo afirmando que o Dia da Mulher deveria ser todos os dias, e certamente seria verdade. Contudo, considerando que o calendário consagra o dia 8 de Março para esta reflexão, importa aproveitar a ocasião para aprofundar o entendimento sobre o verdadeiro significado desta data e das lutas que ela simboliza, também no contexto político açoriano.
Reconhecer o valor das mulheres na sociedade não pode limitar-se a uma única data comemorativa. O verdadeiro significado do Dia Internacional da Mulher reside no seu papel como dinamizador da consciência social, promovendo ações concretas e reflexões críticas sobre os desafios enfrentados diariamente pelas mulheres, também nos Açores. Honrar as suas conquistas históricas é um compromisso permanente que deve envolver todos os setores da sociedade açoriana.
Historicamente, as mulheres têm enfrentado quase sempre papéis secundários, privados de direitos fundamentais e forçadas a lutar persistentemente pelo reconhecimento da igualdade. Desde tempos antigos até à modernidade, incluindo períodos marcantes como a Revolução Industrial ou mesmo a luta pelo sufrágio universal, elas demonstraram coragem e persistência notáveis. Mulheres como Emmeline Pankhurst e Susan B. Anthony são exemplos emblemáticos desta luta global pelo direito ao voto e pela dignidade feminina.
Nos Açores, apesar dos avanços alcançados, desafios importantes persistem, particularmente na esfera política e social. A desigualdade salarial, presente também na região, continua a simbolizar disparidades profundas entre homens e mulheres. Apesar das lutas travadas desde as décadas passadas, nomeadamente durante os movimentos feministas das décadas de 1960 e 1970, a realidade salarial ainda exige ações concretas por parte das instituições políticas açorianas.
Outro tema urgente que continua a exigir atenção especial nos Açores é a violência doméstica. Este flagelo social ainda prevalece na região, exigindo a intensificação de políticas públicas eficazes, com investimentos consistentes em proteção, prevenção e educação. Só assim será possível enfrentar e eliminar definitivamente essa realidade dolorosa que afeta diariamente inúmeras mulheres açorianas.
A política regional também reflete as desigualdades de género, apesar da existência de leis que promovem a paridade. Embora representem um avanço significativo, estas leis evidenciam claramente que a verdadeira igualdade continua por conquistar. Quando as mulheres açorianas deixarem de depender de legislação específica para alcançar representatividade plena nos espaços de decisão política, estaremos efetivamente mais próximos da equidade de género.
No entanto, é importante reconhecer que certas abordagens radicais, ligadas frequentemente a movimentos mais polarizadores, podem gerar controvérsia e resistência na sociedade açoriana. Algumas manifestações mais extremistas de movimentos identificados com a chamada “cultura woke” ou com posicionamentos de extrema-esquerda, embora derivadas de causas urgentes, acabam por barrar um diálogo aberto e democrático, indispensável ao progresso social e político.
Diferenciar claramente estas posturas radicais da legítima luta pela igualdade de género é essencial para preservar e reforçar o valor desta causa tão importante. Nos Açores, o diálogo construtivo, plural e inclusivo permanece o caminho mais eficaz para conquistas reais e sustentáveis, evitando radicalismos que possam distanciar potenciais aliados e prejudicar a unidade necessária para avançar.
Neste Dia Internacional da Mulher, o convite à sociedade açoriana não deve limitar-se a celebrações simbólicas ou homenagens superficiais, mas deve constituir uma oportunidade para uma reflexão profunda e um compromisso duradouro com a igualdade. O 8 de Março deve recordar-nos permanentemente da responsabilidade coletiva que temos em construir, nos Açores e no mundo, uma sociedade verdadeiramente justa, inclusiva e igualitária, onde a dignidade e os direitos de um qualquer género sejam valorizados diariamente.
Haja saúde e um beijinho grande às nossas Mulheres!
José Pacheco
Presidente e Deputado do CHEGA Açores